Pilates para corredores: um aliado além da pista

Como o Pilates pode transformar a corrida, melhorando postura, eficiência e prevenindo lesões.

Correr é uma das práticas esportivas mais populares do mundo. Estima-se que mais de 50 milhões de pessoas nos Estados Unidos se declarem praticantes regulares da corrida, segundo a Running USA. No Brasil, o número cresce a cada ano com a popularização das corridas de rua, desde provas de 5 km até ultramaratonas. Mas junto com esse entusiasmo, vem também um problema recorrente: as lesões. Estudos apontam que até 80% dos corredores amadores sofrem algum tipo de lesão musculoesquelética ao longo da vida esportiva, sendo as mais comuns nos joelhos, tornozelos e coluna lombar (British Journal of Sports Medicine, 2020).

É nesse contexto que o Pilates surge como um recurso complementar, não apenas para tratar dores já existentes, mas principalmente para preveni-las e melhorar o desempenho. Diferente de treinos tradicionais de força, o Pilates foca no fortalecimento dos músculos estabilizadores, na consciência corporal e na eficiência do movimento — aspectos decisivos para quem corre.

Um estudo publicado na PLOS ONE (2018) acompanhou corredores recreacionais submetidos a 12 semanas de Pilates. O resultado foi impressionante: o grupo que praticou Pilates reduziu o tempo médio em uma prova de 5 km em cerca de 8%, além de apresentar melhora significativa na economia de corrida (menor gasto energético para a mesma distância). Isso significa correr mais rápido, com menos esforço.

No consultório, esses números se traduzem em histórias reais. Atendi um paciente, maratonista amador, que vinha sofrendo com dores constantes nos joelhos após aumentar o volume dos treinos. A ressonância não mostrava lesões graves, mas a análise funcional revelava déficit de estabilidade no quadril e fraqueza abdominal profunda. Após quatro meses de Pilates integrado à planilha de treinos, ele não só completou sua maratona sem dor, como também conseguiu melhorar seu tempo em 12 minutos em relação ao ano anterior.

Casos semelhantes não se limitam a corredores anônimos. Usain Bolt, considerado o maior velocista da história, é um exemplo público de atleta que incorporou o Pilates e o trabalho de core stability em sua preparação física, sobretudo após sofrer repetidas lesões lombares. Ele mesmo já declarou que o fortalecimento profundo ajudou a equilibrar seu corpo e sustentar a velocidade extrema com menos desconfortos.

Mas por que exatamente o Pilates é tão eficaz para corredores? Há pelo menos quatro pilares que explicam essa integração:

  • Fortalecimento do core e estabilização pélvica: a corrida depende de transferência eficiente de força entre membros superiores e inferiores. Um core instável sobrecarrega joelhos e coluna.

  • Melhora da mobilidade e da amplitude de movimento: encurtamentos musculares são comuns em corredores e limitam a passada, aumentando riscos de lesões. O Pilates atua em alongamentos ativos que devolvem fluidez ao movimento.

  • Respiração e consciência corporal: aprender a coordenar respiração e esforço reduz tensão, melhora a oxigenação e ajuda a sustentar cadência em provas longas.

  • Prevenção de desequilíbrios musculares: enquanto a corrida é um movimento repetitivo e linear, o Pilates explora múltiplos planos, equilibrando musculaturas antagonistas e reduzindo sobrecargas.

O impacto prático é perceptível até em corredores iniciantes. Uma aluna que atendemos recentemente, de 45 anos, havia começado a correr durante a pandemia como forma de aliviar o estresse. Em poucos meses, passou a sentir dor lombar e desconforto nos quadris. Ao incluir Pilates duas vezes por semana, ganhou força estabilizadora e passou a correr com mais conforto, chegando a completar sua primeira prova de 10 km sem dor — algo que parecia impossível no início.

É importante destacar que o Pilates não é apenas para quem já tem dor. Ele deve ser visto como parte de uma rotina preventiva. Profissionais de saúde e fisioterapeutas esportivos já consideram o método como “treinamento de base” para corredores, no mesmo nível de treinos intervalados ou de fortalecimento em academia.

No fim, a mensagem é clara: se você deseja correr mais rápido, por mais tempo e com menos lesões, o Pilates é uma ferramenta indispensável. Não se trata de substituir a corrida ou de adicionar mais carga, mas de educar o corpo para se mover melhor. Com ele, a corrida deixa de ser uma fonte de dores recorrentes e se transforma em um caminho sustentável de bem-estar e performance.

 

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